Porque descemos a Hidrovia Tietê-Paraná?

Para conhecer melhor estes rios, seus afluentes e toda a natureza que os cercam...viver esta aventura!
Para divulgar a Vela, principalmente a vela de Cruzeiro, pela ABVC-Interior, nos clubes, cidades e marinas distribuídos ao longo da Hidrovia.
Para atrair os jovens para as atividades saudáveis ao ar livre, na integração com a natureza.
Para apoiar os Comitês de Bacias e todas as iniciativas de recuperação da qualidade de nossas águas.
Para levantar os problemas de falta de Mata Ciliar ao longo do trecho principal e seus principais afluentes.
Para chamar a atenção dos municípios do potencial turístico da Hidrovia Tietê-Paraná e seus afluentes, para que criem estruturas para receber o turismo náutico.
Para demonstrar que a Vela de Cruzeiro é um esporte extremamente factível para o pessoal da Terceira Idade.
Para conhecer nossa gente e fazer novos amigos!!
Venha Conosco, Inscreva-se e Participe!!
abvcinterior@terra.com.br
Paulo Fax – Vice Presidente e Diretor Regional da ABVC Interior (11) 8457-3879
Paulo Abreu – Comodoro da Expedição e Diretor Adjunto ABVC Interior (19) 9105-5050
VHF canal 22

domingo, 27 de dezembro de 2009

Diário da 5a e Última Etapa da Expedição - Pereira Barreto a Castilho

por Paulo Fax, Paulo Abreu e Francisco Piza


12/12/2009 Sábado

Na semana que se sucedeu a 4ª perna, o Paulo Abreu e o Frank haviam feito uma investida subindo o canal de Pereira Barreto até a montante do rio São José dos Dourados, pouco vento e muita correnteza dentro do canal, a navegação é tranqüila desde que diurna e não tenha o azar de cruzar com alguma chata, rebocador ou draga no caminho, pois além da correnteza o canal ser muito forte é estreito para manobras. Deveria ter com certeza um sistema de operação como das eclusas pois é muito passível de acidentes dentro do canal. Mesmo clamando no canal 16 após avistarem uma embarcação de grande porte não houve resposta, isso reforça o perigo de navegar nesses canais estreitos e de mão dupla, já que a maioria das pequenas embarcações e das dragas de areia não possuírem sequer um radio VHF.

Após uma longa viagem dos navegadores até a Pousada Dinâmica da Águas em Pereira Barreto, nos reunimos por telefone com o Chico que estava em Andradina onde conheceu o Amarildo, sócio do condomínio da Vila dos Operadores, e com um único telefonema conseguiu liberar para nós todo acesso à rampa e recursos do local. Prtimos para Andradina onde nos encontramos e de lá para Castilho. Desta forma, deixamos os dois carros e as três carretas neste condomínio e seguimos retorno com a famosa Jabiraca, como chamamos o carro do Frank, para Pereira Barreto. Dormimos na Pousada Dinâmica das Águas.



13/12/2009 Domingo

Amanheceu chovendo, tempo encoberto. Até tomarmos nosso café e providenciarmos gasolina e arrumações partimos finalmente as 10h, já sem chuva agora.

A represa estava muito espelhada, águas calmas. Contornamos a cidade de Pereira Barreto e seguimos motorando rio abaixo. Na margem direita do rio vemos Pereira Barreto, suas praias e em seguida alguns ranchos. Encalhado numa margem vimos um barco de passeio que está sendo terminado.
Neste trecho é comum encontrar nas margens famílias inteiras pescando com a água pela cintura.




A ponte Pereira Barreto é enorme, possui 2 km de extensão e 10 metros de altura no vão maior, não necessitando abaixarmos os mastros dos veleiros. Isso porque já estamos no padrão Paraná da hidrovia, onde a altura permitida é de 10 metros. Isso ocorre porque para descer o rio Paraná não existe eclusa em Ilha Solteira assim, as embarcações são obrigadas a percorrer o canal pereira Barreto e eclusar pela eclusa de Três Irmãos. Assim, todo este trecho acompanha o padrão Paraná.

O padrão Tietê determina 7 metros de altura máxima, nos obrigando a descer o mastro a cada ponte e eclusa.


Assim que deixamos a ponte de Pereira Barreto para trás, no horizonte avistamos os guindastes da barragem de Três Irmãos, bem ao longe. Neste trecho a represa é bastante larga, chegando a 4,7 km de largura, e muito profunda, chegando a marcar no ecobatímetro 55 metros.
Neste momento tivemos uma surpresa bastante agradável, um cardume de enorme Dourados acompanhavam a Expedição, e sem o menor pudor saltavam para fora da água refletino o sol nos seus dorsos dourados e vigorosos. Esta espécia está praticamente em extinção e quase não existe um projeto de preservação da espécie na região. Pelo sabor da carne é um peixe muito apreciado pelos pescadores.

Assim que nos aproximamos da eclusa, fizemos contato com o operador para os procedimentos de eclusagem. Desta vez foi menos burocrático e recebemos diretamente a permissão para entrar na eclusa e atracar. Pela primeira vez fizemos estas operações sem abaixar os mastros, muito mais fácil.
A Eclusa de Três Irmãos também é formada por duas câmaras em cascata com um lago intermediário, assim como a de Nova Avanhandava. Desta forma, para vencer o desnível temos que proceder duas eclusagens.


O lago intermediário muito bonito e arborizado, a boreste fica uma prainha cheia de capivaras, que nem se incomodaram com a nossa presença, e a bombordo fica um pequeno pântano que lembra um jardim.
Na saída da eclusa existe uma ponte rodoviária (SP-563) e uma rede de alta tensão logo em seguida. Os balizamentos da hidrovia indicam uma passagem onde o linhão é mais alto, assim passamos sem mais problemas.


O trecho do Tietê que navegamos em seguida é mais pantanoso, um tanto ermo, com inúmeras ilhotas, canais e trechos muito planos nas margens. De longe avistavasse um barquinho de alumínio passando de um lado para o outro, procurando suas sevas para pescar. Muitos pássaros, tucanos, araras canindé, patecos, papagaios e peixes, muitos peixes. Especialmente bonito, a mata ciliar não está muito espessa, mas existe em quase todo o trecho. A correnteza é quase imperceptível.


Logo avistamos a ponte de Itapura. Esta ponte teve dois vãos emendados para alargar a passagem. As plataformas de concreto foram substituídas por uma ponte metálica, mais bonita e mais alta, vencendo o vão duplo. Um imenso arco de apoio dá um toque especial nesta ponte. Muitas pessoas param por ali em volta da ponte para descer o barranco para pescar e fazer pic nics, ou como diz o Frank, farofada mesmo!

Após a ponte existe um longo treco a boreste muito raso e largo, após algumas batidinhas no leme fomos obrigados a ir para a Hidrovia e navegar entre as bóias para evitar encalhes. Neste trecho muitas algas limpas afloram a água, parecendo enormes florestas submersas. Estas algas chegam a ter até 05 metros de altura até a superfície. Deve ser lindo um mergulho entre elas.

Pouco abaixo avistamos as construções da antiga cidade Salto de Itapura que emergem da água próximas da margem direita do rio. As mais visíveis são duas caixas d’água e uma estrutura de pilares e vigas. Não há sinalização para a navegação, o que torna a navegação noturna neste trecho muito perigosa. Estas estruturas ficam em frente à praia de Itapura, e foram alagadas pela barragem de Jupiá, no rio Paraná. A Marina Urubupungá do Paulo Longo, situada no rio Paraná, opera mergulhos neste local, avistando as construções da antiga cidade, inclusive a hidrelétrica de Itapura, também alagada pela barragem de Jupiá.

Na cidade de Itapura não existe mais a rampa municipal, para retirada dos barcos, é feita pela areia mesmo, então serve apenas para pequenas embarcações a motor.
Na margem direita avistamos alguns pivôs de irrigação em fazendas locais e vários ranchos bem montados, com seus respectivos piers dedicados principalmente para pesca.


No horizonte já avistamos a outra margem do Rio Paraná, no Mato Grosso do Sul, mistura-se uma sensação de cumprimento da meta e de pena por estar acabando nossa expedição.
Entrou um vento e abrimos as velas. Logo entramos no Rio Paraná.
Todos comemoramos, com cerveja e falando no rádio, nos parabenizamos e lavamos a alma netse momento, entramos finalmente no rio Paraná..Adeus Tietê, obrigado por tudo!


Já deslizando no rio Paraná, nos chamou a atenção a clareza das águas que lembram muito as enseadas de Angra dos Reis. Um tom verde e a grande visibilidade permitem ver os peixes passando, florestas de algas sob nossos cascos, que delícia esse lugar. O pôr do sol prometia ser lindo, digno de um final de expedição tão almejado.





Logo viramos em direção a jusante do rio e seguimos descendo o rio. O Papaléguas foi margeando o Estado de São Paulo enquanto o Zip e o Bichop margeavam o lado do Mato Grosso. Neste trecho a mata ciliar é exuberante, está ligada a uma mata mais densa que segue até onde a vista alcança. Muitas aves se aninham ali. As enseadas são claras e cercadas de mata verde. Alguns trechos das margens são formados por pedras oriundas do basalto descoberto pelas ondas do reservatório. Cada metro deste trecho é muito bonito.
Mais tarde o veleiro Zip e o veleiro Bichop decidiram procurar uma enseada para pernoitar no Mato Grosso enquanto o Papaléguas seguiu para a rampa da Vila dos Operadores.



14/12/2009 Segunda - Feira




Entre comemorações e pescarias a noite caiu para o descanso da tripulação que logo pela manhã partiram em direção a Vila dos operadores. Com um ótimo vento de través, singramos a imensa represa e cruzando a fronteira dos Estados já com um aperto na garganta, anunciando que lá chegando fecharíamos a nossa longa etapa.
Os guindastes da barragem no horizonte e o enorme  muro de contenção nos davam a idéia da grandeza daquela obra, quanta maravilha!





Conforme fomos nos aproximando da Barragem de Jupiá, pela margem paulista, aparecem ranchos muito bonitos e em seguida mansões maravilhosas, que nada deixam a dever para as melhores de Angra dos Reis. Após um contato do Chico por telefone, nos alertou que a rampa da Vila dos operadores estava um tanto avariada e nos orientou a encarretar na Marina Urubupunga, onde fomos recebidos pelo Paulo Longo e seu gerente, que nos deu toda a atenção e suporte necessário, além de rebocar os barcos com o trator, o que facilitou muito já que a rampa é de areia.


A marina Urubupungá é muito bonita , bem cuidada e com uma ótima estrutura para mergulhadores, eles fazem saídas regulares para mergulho numa hidrelétrica inundada, num velho vapor afundado na guerra do Paraguai, na antiga cidade submersa de Itapura e também eclusa abaixo nos pântanos fazem mergulhos com as raias de água doce.
Nesta época a visibilidade chega a 07 metros por causa da chuva, de maio a novembro passa a incríveis 14 metros!





Após uma sessão muito animada de fotos e um banho no Frank, fomos a Pereira Barreto buscar a Jabiraca do Frank, nesse meio tempo ajudamos a ajeitar as coisas no Papaléguas e o Chico nos trouxe pra pegar os carros que faltavam.
Com uma alegre despedida e a sensação do dever cumprido, cada um de nós pegou a estrada de volta pra casa.



Em breve, faremos uma reunião dos participantes da expedição, para fazermos um resumo de recomendações, comentando os melhores trechos, o que faltou, o que pode melhorar e o que evitar para balizar futuras expedições pelo rio Tietê e Paraná. Até lá desejamos a todos um Natal maravilhoso e um Ano novo de muita paz e ótimas navegadas!



Agradecemos de coração a todos os que colaboraram direta e indiretamente para a realização desta Expedição, as nossas famílias que com o coração apertado torceram por nós, aos nossos amigos que seguraram algumas barras enquanto estávamos fora, aos que nos receberam com carinho e um enorme sorriso sem ao menos nos conhecer. Ao Clube Agua Nova e seus diretores e funcionários, A marina da Barra e o Sr Ivan. A Secretaria de Turismo da Barra.Aos operadores das eclusas, sempre cordiais e companheiros, nosso muito obrigado. Aos Comandantes da chatas e rebocadores que nos encheram de alegria e nos mostraram a grandeza deste rio que transporta o crescimento e o sustento deste país. Aos nossos valentes veleiros, que com coragem em suas quilhas e lemes suportaram porrancas, perrengues, troncos, caturradas, algas, lodos, pedras, pontes aguapés, camalotes, eclusas, esgotos, lixos e todo tipo de alegoria que flutue, valeu, valeu mesmo!! Aos nossos queridos tripulantes, companheiros que dividiram bons e maus momentos conosco, obrigado por não abandonarem o navio e não fazerem a bordo nenhum motim significativo a côrte marcial. A SP Turis e o Capitão Marco Antônio Castelo Branco que nos deu todo apoio cartográfico. A vocês queridos amigos que nos acompanharam pelo blog e navegaram conosco on-line. Aos nossos companheiros velejadores que não puderam estar conosco, mas só fisicamente, estavam lá sim! A Marinha do Brasil da Barra Bonita, e a ABVC.




Muito Obrigado e Bons Ventos!!



Paulo Fax, Francisco Piza e Paulo Abreu.

Um comentário: